data-filename="retriever" style="width: 100%;">Uma amiga pediu que a levasse ao hospital. Fomos bem atendidas e ela entrou. Fiquei na recepção onde o médico, o enfermeiro, e o motorista da ambulância estavam descontraídos, sem preocupação com sua indumentária monocromática, limpa, bem passada, que não distinguia quem era quem.
Indo para a sala de espera quase fui atropelada por uma senhora elegantíssima, que, em tempos idos, minha mãe descreveria como uma dessas de taco alto e brinco de argola. Entrou como um furacão e ríspida perguntou: onde está o médico?
Calmo, o médico respondeu: boa tarde senhora! Em que posso ser útil? Ela retruca: o senhor é surdo! Não ouviu que procuro pelo médico? Ele: boa tarde senhora, sou médico, posso ajudá-la? Ela: como! O senhor? Com esta roupa? Ele: desculpe, pensei que procurasse um médico não uma roupa. Ela: desculpe doutor, é que vestido assim, nem parece médico. Ele: Como são as coisas! A veste parece não dizer muito. Quando a vi chegar bem vestida, elegante, pensei que fosse sorrir e daria boa tarde! Como se vê, nem sempre a roupa diz muito.
Ao voltar para casa, calcei o chinelo, vesti a bermuda e a vizinha me pediu para orientar seu hóspede. Um afilhado atrapalhado com o trabalho de conclusão da faculdade. Pouco depois, ele toca a campainha. Abro e digo: Oi, entra! Ele: não! Quero falar com a doutora. Respondo: Sim! Não entrou. Parada na porta, lhe olhei interrogativamente, e ele, impaciente, arrogante, com ar de superioridade diz: Tu não vai chamar? Respondi: A doutora sou eu. E se repete a pérola do dia: Com esta roupa?
Diante destes fatos, percebi que é preciso ter elegância para continuar sendo gentil em situações cruéis. Que roupa boa é o fino trato, ética, solidariedade, respeito em todas as ocasiões. Que elegância é pedir desculpa, dizer: por favor, obrigada, com licença.
Estes fatos lembram o texto bíblico afirmando: o que veste a pessoa são atitudes, o que importa é o que está no coração. Quem se veste com ele não se preocupa em chamar a atenção, sua beleza não vem do externo, como cabelo trançado, joia e roupa fina, mas do interior vem a beleza indecifrável de um corpo gentil...
O filósofo francês Valéry dizia que usar a roupa certa é a arte de não se fazer notar, aliada ao cuidado sutil de se fazer distinguir. Assim, o mais belo traje é a educação. Ele pode fazer a diferença, mas não se nega que falta de educação e humildade, arrogância, grosseria, ver-se melhor do que o outro, e dono da verdade, derrubam qualquer veste, bastando um minuto de fala para que o ouro da roupa vire barro.
A vida é feita de agir, reagir e corrigir, mas o melhor é ser gentil e sorrir. Sorria, a vida é bela, dela nada se leva então nossa melhor roupa é o sorriso.
Caro leitor: podemos nos vestir bem, mas se não formos educados, a roupa será só fantasia. Que figurino escolhes para hoje?